Uma lágrima para Rubem Fonseca

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Fiz o almoço, lavei a louça, escovei os dentes, subi a escada que leva ao escritório que fica na edícula, em cima da lavanderia, abri o computador e a página de notícias me informou que Rubem Fonseca morreu hoje no começo da tarde, aos 94 anos, de infarto, em sua casa.

Morreu o escritor que foi o centro das minhas leituras nos anos 1990, entre os meus 20 e 30 anos, que eu tentei copiar em tudo o que escrevi entre 1995 e 2002. Eu e a torcida do Flamengo, se este fosse um país escolarizado, mas considerando a realidade brasileira, melhor reformular a frase – eu e a torcida do Olaria. Imagino que a torcida da Olaria deve ter mais ou menos o mesmo número de pessoas que tentam escrever alguma coisa com pretensões literárias.

Comecei a ler Rubem Fonseca pelo romance “Agosto”, um best seller de 1990 que comprei de presente para minha mãe e roubei dela antes mesmo de ela ler. Ela não se importou, não pelo livro que não leu, e talvez gostasse se tivesse lido, mas porque era o filho demonstrando o mesmo prazer dela e do marido, meu pai: a leitura. Até o ano 2000, enquanto os engenheiros se preocupavam com o bug do milênio, eu me preocupava em ler tudo o que Rubem Fonseca tivesse escrito ou viria a escrever.

É deste período o meu livro preferido: “O buraco na parede”, um livro de contos que abre com um conto sensacional chamado “O balão fantasma”, sobre a arte de lançar balões aos céus. Fonseca gostava disso, da arte das coisas. Seus personagens não sabem algo sobre algo, eles sabem tudo sobre alguma coisa. São experts. Mais que experts, são artistas no que fazem, porque únicos, irreproduzíveis. Arte e artesanato.

Rubem Fonseca enxergou o país que nascia no meio da ditadura militar, a violência latente em cada pessoa, em cada ação, disfarçada em meio de vida da arraia miúda e de polidez dos tubarões.

Um dia, eu fui parando de ler Rubem Fonseca, de um certo modo seus livros são um só. Não faz mal. Ele sempre entregou o que um leitor apaixonado espera.

Deixo a minha lista dos 10 livros que eu mais gosto de Rubem Fonseca, em ordem:

  1. O buraco na parede, contos, 1995.
  2. A coleira do cão, contos, 1965.
  3. Agosto, romance, 1990.
  4. O Cobrador, contos, 1979.
  5. Feliz Ano Novo, contos, 1975.
  6. Histórias de amor, contos, 1997.
  7. Vastas emoções e pensamentos imperfeitos, romance, 1988.
  8. Bufo & Spallanzani, romance, 1986.
  9. E do meio prostituto só amores guardei ao meu charuto, romance, 1997.
  10. Mandrake, a Bíblia e a Bengala, romance (duas novelas, na verdade), 2005.

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