Vinte e seis de agosto de mil, novecentos e sessenta e oito. Os Beatles finalizaram a gravação de Hey Jude, John Lennon disse que a música era “uma das obras-primas” de Paul McCartney e ” na na na na na naaaaa na na naaaaa entrou pra história.
Paul disse que a música foi feita em homenagem a Julian Lennon, filho de John e Cynthia, no momento em que seus pais se separavam. Mas John a ouviu, imediatamente se enxergou na letra e tomou a canção como feita para ela – um recado sutil, primoroso, belo e engenhoso de parceiro lhe dizendo que fosse em frente com Yoko, fizesse do limão uma limonada sem sentir-se culpado pela página ruim que estava escrevendo naquele momento. Talvez fosse isso mesmo, talvez John fosse sensível o suficiente para entender o que seu amigo lhe dizia – e mesmo provocando Paul por fazer canções bobinhas de amor, John nunca negou e sempre valorizou o talento do seu duplo-contrário.
Hey Jude foi o lado A do primeiro single lançado pela Apple. Sobram conspirações para afirmar que é um pilares da desavença que levou ao fim da banda. Além de rejeitar o som de guitarra com que George respondia aos versos, Paul ganhou o lado A do novo single, para o qual John havia composto Revolution, que acabou no lado B. John perdia a primazia dos lados As para uma canção que criticava a sua vida pessoal. Se Paul dizia que John sabia o que devia fazer (“the movement you need is on your shoulder”), pronto – era só sair e fechar a porta. Mas ainda havia Abbey Road para ser feito, e nos seus íntimos eles deviam saber disso.
Acho que uma bela música não salvou a amizade, mas gestou um belo disco.