“Quem é Karol Conká?”

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Desde que começou o Big Brother Brasil 21, essa pergunta apareceu nas minhas redes sociais. Eu sabia que Karol Conká era uma cantora negra. Sabia também que exercia algum ativismo, por ter ouvido uma referência a ela num podcast. E isso era tudo e era um tudo muito pequeno ainda que fosse muito maior do que outras pessoas do meu entorno sabiam dela.

Eu não acompanho o programa, nunca acompanhei. Não posso me dizer surpreso com sua eliminação nem afirmar que era esperado, eu não sei nada de BBB, ou sei muito pouco. O que sei é que um programa com alto investimento publicitário, que faz um recrutamento muito bem planejado dos seus participantes e tem uma direção rigorosa. É um programa de televisão, pensado e executado para gerar receita para a emissora, e não um experimento social. Porém, tendo trabalhado quase 25 anos coletando e analisando a opinião das pessoas, posso afirmar que 99%, fosse pela eliminação, fosse pela manutenção, é unanimidade, e aí fica posta a pergunta: é burra toda unanimidade? Aliás, o que pensaria Nelson Rodrigues sobre o BBB e, mais ainda, sobre a sua longevidade?

Trazendo a bola para ser jogada no meu campo, me fiz a seguinte pergunta: quantas pessoas, seja do meu entorno próximo, seja mais ou menos distante, sabem que foram Cruz e Souza, Carolina Maria de Jesus e Joel Rufino dos Santos? Ou, talvez, quantos saibam quem seja Conceição Evaristo, Oswaldo de Camargo ou Nei Lopes? Provavelmente, aqui pelo meu mundinho, quase todo mundo deva saber quem é Djamila Ribeiro, Itamar Vieira Junior e, se puxarem um pouco pela memória, Paulo Lins. Saberiam quem são Ana Maria Gonçalves, Eliane Alvez Cruz, Ana Paula Maia, Jarid Arraes e tantos outros nomes de negras e negros da literatura brasileira? Isso pra ficarmos só na literatura…

A imensa maioria, e infelizmente afirmo com sabedoria, não sabe. Eu sabia pouco até o fim de 2019, quando ativamente me dispus a ler escritores negros e escritoras negras. Porque estão invisíveis. Negros estão invisíveis no Brasil. Ou, de forma, invisibilizados. Durante décadas, mantivemos invisível a população negra e aceitamos que ela aparecesse como esportistas ou como artistas, desde que ligados à música. Porque infelizmente ainda somos um país que desconhece sua população, tal como o Ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou em reunião no Senado Federal em 30/6/2020. Ali, ele falou em “38 milhões de invisíveis no país, sem registro” nos cadastros do governo.

A invisibilidade, em todos estes casos, não está no outro, está em quem olha e não vê. Já escreveu José Saramago, como epígrafe do seu genial “Ensaio sobre a Cegueira”: se podes olhar, vê; se podes ver, repara. Quando olhamos, não vemos, quando vemos, pouco ou nada reparamos.

Abaixo, dois links que podem ajudar a olhar, ver e reparar (com duplo sentido):

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