Que os americanos reclamam para si e proclamam para o mundo que eles inventaram o avião não é novidade. Para um americano médio, Santos-Dumont não existe e 14-Bis não significa absolutamente nada, nem mesmo o nome de uma banda… Para este americano, os irmãos Orville e Wilbur Wright construíram e puseram no ar a primeira máquina voadora, aproveitando os ventos de uma pequena colina na costa da Carolina do Norte, onde contaram com o patrocínio de um empresário local, com a ajuda de trabalhadores da cidade de Dayton e com o isolamento num terreno à beira-mar.
O estado da Carolina do Norte se orgulha do feito a ponto de usar o lema First in Flight na placa dos carros. E o país mantém um parque nacional no local onde o voo foi realizado. Partindo do ponto de onde os irmãos Wright decolaram de um trilho com seu artefato, o visitante pode caminhar, no solo, pelo mesmo trajeto que o avião deles realizou no ar. Em quatro tentativas, avançaram um pouco mais a cada uma. E cada uma das quatro distâncias está marcada por um pedra no solo. É um tributo ao feito heróico dos filhos da pátria.
Durante uma temporada recente morando nos EUA, precisamente na Carolina do Norte, visitei o Wright Memorial. Na base de um obelisco está encravada a frase que dá a justa medida da diferença de como cada país enxerga seus feitos: o Brasil reivindica a invenção do avião, e os EUA reivindicam a conquista do ar.
E por acreditar que conquistaram o ar em 1903, antes de qualquer outro país na Terra, acreditaram também que poderiam conquistar o espaço chegando na Lua antes que outro terráqueo. E chegaram.
E por reivindicarmos “apenas” a invenção do avião, só a temos internamente – talvez na França, onde o voo de Santos-Dumont aconteceu em 1906. E nunca conquistaremos um lugar nas mentes daqueles que mandam no mundo.