As mães e avós do Gen. Mourão

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“Agendas particulares tentando ser impostas ao conjunto de uma população. E ao mesmo tempo o ataque cerrado feito sobre a instituição primordial de qualquer estado, que é a família. Eu lembro que nós fomos caçadores-coletores há 70.000 anos, não é, então essa nossa trajetória na Terra é enorme, não é, depois da Revolução Agrícola de 12.000 anos atrás é que nos fixamos na cidade e passamos a ter condições de alimentar grandes contingentes de pessoas , não é?, e a família sempre foi o núcleo central disso aí. A partir do momento em que a família é dissociada, não é?, surgem os problemas sociais que nós estamos vivendo. E atacam eminentemente onde não há pai nem avô, é mãe e avó. E com isso torna-se realmente uma fábrica de elementos desajustados e que tendem a ingressar nessas narco-quadrilhas.”

Há um canal de Youtube chamado de Crítica Nacional. Este canal postou um vídeo com o discurso do Gen. Mourão, candidato a vice-Presidente junto com Bolsonaro, feito num evento do Secovi-SP no dia 17/9/2018. O vídeo tem falhas e pequenos saltos devido à conexão ruim na sala, segundo um apresentador que parece ser o responsável pelo canal.

Hoje, dois dias depois, já pipocaram posts mostrando Dráuzio Varela dizendo que a criminalidade tem relação com os lares desfeitos e li um artigo do jornalista Leandro Narloch dizendo que sim e que não: sim, famílias desestruturadas tem filhos mais propensos à criminalidade, mas não isso não se deve à falta do pai.

O que fica claro tanto em Varella quanto em Narloch é o impacto da desestruturação familiar sobre os filhos. Mas em Mourão, não é disso que se trata.

Transcrevi acima a fala do Gen. Mourão. Ele usa a restruturação familiar e a consequente ausência masculina como exemplo de outra coisa, o ataque ordenado à família realizado por agendas particulares impostas à população. É disto que ele trata: de um grupo pequeno impondo sua agenda a um grupo maior.

Eu não estava lá, mas é fácil perceber, pelo restante do vídeo, que ele se refere aos últimos governos federais, cujo partido é alvo de críticas. Bem, criticar o partido dos últimos governos federais, ok, #tamojunto. Mas, de novo, não é disso que se trata.

Trata-se, efetivamente, da opinião de um pequeno grupo contrário a outro pequeno grupo. Nada próximo de um extremista do que outro extremista, pra dizer uma obviedade mais que ululante! Gen. Mourão não está atacando as causas históricas da desestruturação familiar no Brasil, ele está atacando os valores do grupo com o qual ele não concorda. Porque a desestruturação familiar no Brasil não é obra de Lula nem de Dilma, nem de FHC ou Itamar ou Sarney. É obra de todos eles juntos e de todos os outros que os antecederam, particularmente os generais-presidentes. Pela sua fala, percebe-se que ele não critica o histórico de migração de mão de obra do Nordeste para o Sudeste nem do Nordeste para a Amazônia. Tampouco critica a violência urbana já cristalizada por décadas e décadas de desatenção governamental. Poderia criticar inclusive Dom Pedro II, tido como o monarca que gostava dos cientistas mas cujo governo agiu deliberadamente para constituir um exército que massacrasse os paraguaios e ignorou pedidos da população brasileira por mais escolas para crianças.

Dentro do seu contexto, a fala do Gen. Mourão foi mais preconceito do que “constatação”, como ele afirmou um dia depois – ou seja, ontem, não se perca no calendário. E além de preconceituosa, é de uma ignorância histórica atroz. Preconceito e ignorância típicas de grupos extremistas de quaisquer espectros, que se merecem, mas que a nós, creio, não merecemos.

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Para o vídeo no Youtube, no Canal Poder 360: https://www.youtube.com/watch?v=AMc1Lx84mak

Para o artigo de Leandro Narloch: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/leandro-narloch/

Para a atuação no Segundo Império, procure por Pátria Iletrada, de Rafael Cariello e Thiago Coelho, na revista piauí, no. 124, janeiro de 2017, sobre a tese de livre-docência de Renato Perim Colistete.

 

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