Leio a lista dos livros mais vendidos pela Amazon em 2018 no Brasil. O campeão de vendas, tanto impresso quanto digital, vem com um asterisco no título. Não se escreve o título por completo. Confesso: eu só conhecia este livro por ouvir falar, nunca tinha visto a capa, nem lido a respeito, nem ele apareceu nas mãos de nenhum leitor ao meu redor ao longo deste ano. A capa da edição brasileira, igual à da original americana, vem com o asterisco. Antes de ver a capa eu achei que era pudor dos sites de notícias. Descobri que o pudor é do capista, ou do editor, ou do acionista da editora. Não sei de quem é o pudor.
O livro se chama ‘A sutil arte de ligar o foda-se’, na versão traduzida, ou ‘The subtle art of not giving a fuck’, no original. O ponto é não escrever a palavra ‘foda’, nem ‘fuck’. Alguns resultados de busca, porém, trazem o título sem asterisco.
Mas por que falamos o título por completo mas não o escrevemos? Arrisco dizer que não aceitamos colocar no papel, ou seja, tornar definitivo, o pequeno pecado de falar um palavrão. Além disso, é capaz que uma capa como a deste livro, mesmo com o asterisco, tenha que vir com uma sobrecapa tarjada a partir do ano que vem, quando assumem os novos mandatários brasileiros e sua cruzada pela moral e pelos bons costumes que valem para os outros.
É foda. Fóda. Phoda. I don’t give a fuck. Não sei ligar o fôda-se. Quer dizer, às vezes ligo, mas quem se fóde sou eu. “Não bulo com governo, com polícia / Nem censura / É tudo gente fina, meu advogado jura / Já pensou o dia em que o papa se tocar / E sair pelado pela Itália a cantar / Ehê, ahã! Quando acabar o maluco sou eu / Ahã! Quando acabar, o maluco sou eu”.
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Em tempo: na lista dos mais vendidos em formato digital, estão as ‘Obras completas de Machado de Assis’ e ‘Os grandes romances de Dostoiévski’.